Filme indicado ao Golden Goblet tem estreia mundial aclamada, equipe discute conceitos criativos

No dia 15 de junho, o filme luso-brasileiro A Memória do Cheiro das Coisas, indicado à competição principal do 27º Festival Internacional de Cinema de Xangai (Golden Goblet), realizou sua estreia mundial. A cônsul-geral de Portugal em Xangai, Sílvia Inácio, esteve presente no evento, que teve seus ingressos esgotados rapidamente. A sessão de perguntas e respostas com a equipe após a exibição entusiasmou o público.

No dia seguinte, o diretor António Ferreira, acompanhado pela produtora Tathiani Sacilotto, os atores José Martins e Mina Andala, e a coprodutora Eliane Ferreira, participaram de um encontro com a imprensa. O diretor afirmou que a indicação ao Golden Goblet deixou toda a equipe extremamente motivada.

O filme retrata a vida de um veterano traumatizado pelos horrores da guerra colonial, agora vivendo seus últimos anos em um asilo. Enfrentando o declínio físico e as sombras do passado, ele é forçado a conviver diariamente com uma cuidadora afrodescendente, estabelecendo um diálogo que transcende as barreiras de raça, idade e gênero. O diretor utiliza técnicas sonoras, jogos de luz e flashbacks para retratar as memórias fragmentadas e o estado emocional complexo do protagonista: "Usamos sons desconexos, cheiros ou mudanças de luz para o público compreender a dor do personagem. Ele é, por vezes, cruel e irritadiço, mas também engraçado e carismático — isso transmite nossa mensagem central: mesmo imperfeitos, merecemos ser amados e vistos." A reação emocionada do público após a estreia deixou o diretor satisfeito, interpretando-a como um sinal de que a mensagem do filme foi compreendida.

Em busca de autenticidade, antes das filmagens, todo o elenco e equipe passou seis semanas em um asilo em Portugal. O ator José Martins destacou que essa experiência aprofundou sua compreensão do personagem e das questões relacionadas ao envelhecimento: "Só enfrentando, e não evitando, podemos superar os desafios." Já Mina Andala, que interpreta a cuidadora, incorporou suas próprias experiências culturais ao papel: "Em minha comunidade, não se diz 'velhice', mas 'sabedoria', e colocar os idosos em asilos é muitas vezes visto como uma decisão difícil." Ela enfatizou que seu personagem devolve dignidade e liberdade ao veterano e que, na realidade, todos devem ser tratados com justiça e compreensão mútua.

Críticos acadêmicos também destacaram a profundidade do filme. Gao Yuanbao, professor do Departamento de Chinês da Universidade de Fudan, acadêmico de Changjiang e vice-presidente da Associação de Escritores de Xangai, observou que a obra inova ao usar "a memória do cheiro das coisas" como um apoio emocional contra o medo da morte e uma força oculta para a reconciliação, elogiando sua construção temática e narrativa. Gong Jinping, professor do Centro de Educação Artística da Universidade de Fudan, ressaltou que a cuidadora, por pequenos gestos cotidianos, demonstra ternura e resiliência, contrastando com a frieza utilitária das instituições de cuidado e a negligência dos familiares, expondo de forma sensível a solidão muitas vezes irremediável dos idosos.
Fonte: Festival Internacional de Cinema de Xangai, Consulado Geral de Portugal em Xangai