Agualusa partilhando suas experiências literárias com leitores de Xangai
Atualmente morando numa pequena ilha na costa leste de Moçambique, o escritor angolano José Eduardo Agualusa foi primeiro para a capital do país, Maputo, onde apanhou um avião até Lisboa, de onde finalmente embarcou num voo de mais de 20 horas para atender à Semana Internacional de Literatura de Xangai. Entretanto, ao partilhar seu caminho pelas letras, ele trouxe aos leitores da metrópole oriental uma amizade familiar, que corresponde exatamente ao tema da sua própria argumentação: não existem estrangeiros no reino da literatura.
Agualusa partilhando suas experiências literárias com leitores de Xangai [Fonte: WHB]
Ao mergulhar fundo na história sangrenta de Angola no Século XX, Agualusa descobriu a essência dos discursos dos provocadores de guerras: rebaixar os inimigos como nações inferiores sem humanidade. Isto contribui para gerar violência e crueldade, dividindo o povo e restringindo a benevolência e o entendimento mútuo. Para lutar contra a inimizade, Agualusa decidiu escrever para “treinar o músculo que controla a simpatia”. Em sua obra Teoria Geral do Esquecimento, ele se opõe à diferenciação entre “nós” e “eles”, porque enquanto “nós”, também podemos ser “eles”.
Uma tradução chinesa da Teoria Geral do Esquecimento [Fonte: WHB]
Sempre há personagens semelhantes ou idênticas em diferentes romances de Agualusa, o que alguns leitores chamaram divertidamente de seu "universo literário". A resposta do escritor angolano a tal questionamento é que, se há um "universo" em sua obra, é o universo da "leitura", no qual a literatura supera a realidade. Agualusa sempre acreditou que a literatura não só tem o poder de melhorar a realidade, como pode ir mais longe, intervindo e tornando-se a própria realidade. Foram os poetas que lideraram a guerra de independência de Angola que lhe deram esta ideia. Num de seus romances mais traduzidos, Teoria Geral do Esquecimento, ele retrata uma heroína presa num apartamento em Luanda, a capital de Angola, que ao herdar uma casa cheia de livros, abandona o pequeno apartamento que a mantém em cativeiro para se dedicar à leitura, o que a liberta a nível simbólico. Ao escrever o romance Os Vivos e os Outros, Agualusa imaginou personagens fictícias entrando na realidade e modificando-a.
Uma tradução chinesa da obra Os Vivos e os Outros[Fonte: WHB]
Em seu romance Barroco Tropical, Agualusa escreve sobre uma criança chinesa que rabisca grafites numa cidade a ser construída, uma história que ele diz ser a sua favorita porque as crianças, os futuros incertos e a liberdade de expressão fazem exatamente as grandes imagens da literatura.