Cônsul-geral do Brasil em Xangai vê um crescimento sem precedentes no comércio e nos laços

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De acordo com Augusto Pestana, cônsul-geral do Brasil, Xangai desempenha um papel importante na crescente relação entre o Brasil e a China. [Fonte: SHINE]

Os voos que percorrem os 17.584 quilômetros entre a China e o Brasil demoram pelo menos 25 horas, incluindo uma parada técnica de duas horas para reabastecimento. Apesar da distância geográfica, a circulação de pessoas e mercadorias entre esses dois países de dois continentes tem aumentado rapidamente.

Em 2023, as exportações brasileiras para a China ultrapassaram 120 bilhões de dólares americanos, cerca de um terço do total das exportações do país. Trata-se de um valor que o Brasil jamais havia alcançado com nenhum outro país. O número também surpreendeu muitos funcionários públicos e economistas brasileiros, que tinham grandes expectativas após a visita de Estado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, em abril do ano passado.

Entretanto, não foi uma grande surpresa para Augusto Pestana, que assumiu o posto de cônsul-geral do Brasil em Xangai desde março de 2023, pouco antes da visita de Estado do Presidente. Pestana, que desde então tem testemunhado pessoalmente o aprofundamento das relações bilaterais e o crescimento sem precedentes do comércio e do investimento, nos conta do imenso potencial dessa cooperação.

"Estamos assistindo à criação da história através de uma abordagem pragmática e mutuamente benéfica. Muitos dos planos do Presidente Lula durante sua visita de Estado já estão tomando forma, particularmente na área crucial da economia, com numerosas iniciativas no comércio e no investimento", acrescentou. "Esta nova fase da nossa amizade de longa data começou com a visita do Presidente Lula a Xangai, que faz parte da história de sucesso entre o Brasil e a China."

Os números do comércio bilateral aumentaram significativamente este ano, quando os dois países celebram o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas. O cônsul-geral vê isso apenas como o início da nova fase das relações bilaterais: "Não é nada comparado com o enorme potencial que vemos pela frente", explicou.

Há mais de um século, a China e o Brasil já tinham estabelecido relações comerciais. O principal produto de exportação do Brasil era o café, o que não se coadunava com o fato da China ser a terra do chá.

"Bem, olhem para hoje; as coisas mudaram", afirma o cônsul-geral enquanto aponta, pela janela do seu gabinete, para diversos cafés próximos uns dos outros. "Agora há milhares de cafés em Xangai. Como é que alguém poderia ter previsto isto naquela altura? Era um desajuste, mas já não é mais."

No ano passado, as exportações de café do Brasil para a China mais que duplicaram, enquanto a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior mercado de cafetarias de marca do mundo, de acordo com o Allegra World Coffee Portal, um fornecedor global de pesquisas sobre o mercado de café. Muitas destas cafetarias combinam o café brasileiro com outros produtos brasileiros.

"Aqui em Xangai, é possível encontrar produtos brasileiros em todo lugar, de paredes de ferro em arranha-céus ao açaí (uma baga da Amazônia conhecida por suas propriedades energéticas) em mercados locais, embora muitas pessoas não saibam que vieram do Brasil", disse o cônsul-geral.

Pestana vê como um desafio e uma missão promover os produtos brasileiros de qualidade para os consumidores chineses e ajudar as empresas de ambos os países a explorar seu enorme potencial.

Ele tem grandes esperanças de cooperações em vários campos, incluindo o setor aeroespacial, energia renovável, alta tecnologia e veículos elétricos, nos quais as áreas circundantes dentro da jurisdição do consulado apresentam fortes indústrias e mercados.

O cônsul-geral já tinha os olhos postos em Xangai muito antes de sua chegada, em março do ano passado, quando foi CEO e diretor de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e notou as oportunidades em vários setores, tanto para grandes marcas como para empresários de pequenas e médias empresas.

Antes de vir para Xangai, disseram-lhe: "Se queres entender a China antiga, vais a Xi'an; se queres entender o presente, vais a Pequim; se queres entender o futuro da China, tens de ir a Xangai."

"Vim com essa imagem, e esta cidade cosmopolita super global correspondeu às minhas expectativas muito elevadas", disse. "Oferece uma combinação muito boa de vida profissional e vida pessoal, com muitas coisas a acontecer todos os dias."

Xangai é também a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), anteriormente conhecido como Banco dos BRICS, do qual o Brasil é membro fundador.

"O NBD é um exemplo muito concreto do que os BRICS podem alcançar, e os BRICS têm um compromisso muito concreto com valores que nós, brasileiros e chineses, compartilhamos", explicou.

"Nós imaginamos um mundo baseado em instituições multilaterais. Acreditamos que problemas globais exigem soluções globais. Queremos paz, prosperidade e uma globalização mais inclusiva, e precisamos dialogar com todos. O mundo está se tornando mais complicado, por isso este tipo de abordagem com países que partilham as mesmas ideias, como a China, é muito importante."

"Os BRICS e o Sul Global demonstram a importância dos países em desenvolvimento terem voz. Precisamos lugares e plataformas para fazer com que nossas vozes sejam ouvidas. Quando pensamos no NBD, não é apenas a voz, mas também os meios e as finanças", disse ele.

 

Fonte: SHINE